19 November 2007

O regresso?

Hoje no Público noticia-se um possível regresso a curto prazo do semanário O Independente. Mas as características do projecto ainda não são conhecidas. Tem sido uma boa época para estudar as mutações da imprensa. Esperemos pelos novos desenvolvimentos.

Por seu turno, o Público apresenta a partir de hoje à tarde um novo grafismo no seu site da internet, com mais espaço para vídeos e infografias.

11 October 2007

Imagens quotidianas

Broken Blossoms, de D. W. Griffith

20 September 2007

O que aprendi aos 30 anos

«O Universo não tem livro de reclamações»
Fernando Savater

O (meu) sonho de Babel

A Torre de Babel, por Pieter Brueghel

17 September 2007

Revista de imprensa

Quando soube que a Ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, ia a Cabo Verde, numa visita oficial, Edmundo Pedro meteu-se no avião da comitiva, a expensas próprias, para reclamar a construção de um museu a sério na antiga colónia penal do Tarrafal. O episódio é relatado na edição de hoje do Diário de Notícias, num texto a não perder.

Primus inter pares

São os melhores dos melhores. Mas só um deles poderá ser o campeão mundial de xadrez. O primus inter pares. Ao fim de quatro jogos, a vantagem recai sobre o actual campeão, o russo Vladimir Kramnik, e o número um do ranking da Federação Internacional de Xadrez, o indiano Vishwanatan Anand. Cada um tem 2,5 pontos. O confronto entre os dois acabou empatado. O campeonato, que se realiza no México, prolonga-se até 30 de Setembro. Os oito participantes terão de jogar entre si, em duas voltas. O vencedor será aquele que acumular mais pontos. Os jogos podem ser acompanhados ao vivo no site oficial da prova, a partir das 20 horas portuguesas.

13 September 2007

A sorte

A sorte protege os audazes e castiga os algozes.

12 September 2007

Setembro

Could we start again please?

04 September 2007

Uma questão de atitude

«Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever».

Clarice Lispector, in A Hora da Estrela

Uma questão de perspectiva

«Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida».

Clarice Lispector, in A Hora da Estrela

06 August 2007

E depois das férias...


Já se foram as férias, curtas como sempre, e a mudança de casa também, trabalhosa como habitualmente. Seguem-se as ocupações e decisões do dia-a-dia. Umas atrás das outras.

O Julgamento de Páris, de Peter Paul Rubens

22 June 2007

Itinerâncias


Vou mudar de casa (outra vez). E de férias (finalmente). Regresso em Agosto (dia 6). Com energias e projectos reforçados.

04 June 2007

Estou de volta


Cansado, depois de tanta ascensão, de tanta queda, Ícaro mergulhou finalmente em água pura. «Estou de volta», pensou, e pelos seus olhos passaram mil e umas experiências sentidas na pele. «Valeu a pena?», questionou-se. Não duvidou da resposta.

Paisagem com a Queda de Ícaro, de Pieter Bruegel, o Velho

28 May 2007

Não brinquem com o zé

É curioso, talvez um sinal dos tempos, sem dúvida alguma vergonha da casa que lhes dá sustento. Ou será apenas marketing, como dizem? Já repararam que os partidos políticos andam a renegar as suas origens, isto é, as suas cores de referência. O PSD está verde, talvez de esperança; o PS de azul, talvez de inveja; e o BE irreconhecível, sobretudo com a frase: O zé faz falta! As eleições para a Câmara Municipal de Lisboa prometem.

24 May 2007

Feiras do Livro

A festa da literatura está de volta. As Feiras do Livro de Lisboa e Porto abrem hoje, prolongando-se até 10 de Junho. Contacto com escritores, sessões de autógrafos, descontos, conferências ou um simples passeio são razões suficientes para sair de casa.

Grande serviço público

Paulo Portas, líder do CDS-PP, vai pela segunda vez ao programa Grande Entrevista, da RTP, num espaço de dois meses. O serviço público não tem mais ninguém para entrevistar? É assim que se cria o mito de grande orador. Com tantas oportunidades, é natural que a sua mensagem passe.

22 May 2007

Nelson de Matos Edições

Nelson de Matos vai lançar, em Outubro, um novo projecto editorial com o seu nome. «Creio que ainda há espaço para algum trabalho quer na área da Literatura portuguesa, que sempre me interessou, quer no âmbito de textos mais vocacionados para a intervenção, para a actualidade e para a História recente de Portugal», afirmou o editor ao JL (ver edição de amanhã). Os primeiros volumes devem chegar às livrarias a tempo da rentrée, caso contrário, o lançamento será adiado para inícios de 2008. A aposta inicial das Edições Nelson de Matos é numa «estrutura pequena que crescerá à medida do espaço que o mercado lhe for concedendo». Para isso, já têm assegurado distribuidor, gráfica e designer. E uma certeza: «Há muita coisa para acontecer nesta área do livro». Veremos que futuro terão as editoras independente na era do capital do livro.

Informações gentilmente cedidas por MJM.

21 May 2007

Descubra as diferenças



Dar a cara, às vezes

Escrevi aqui sobre a candidatura de Telmo Correia à liderança da bancada parlamentar do CDS-PP. Defendia que o deputado gostava da ribalta, mas sempre atrás do seu chefe de fila, Paulo Portas. Agora, avança para a Câmara Municipal de Lisboa. Vamos ver o que vale eleitoralmente. E o desafio é grande. Uma derrota dará a dimensão do político. Uma vitória poderá apagar a triste prestação no congresso que ditou a eleição de Ribeiro e Castro.

TPC

Trabalho para o próximo campeonato: reavaliar os meus prognósticos.

16 May 2007

Festival de Cannes


My Blueberry Nights, de Wong Kar-wai, é o filme de abertura do Festival de Cannes, que este ano celebra a 60.ª edição. A primeira incursão do realizador chinês por sólos americanos, interpretada por Norah Jones (sim, ela própria, a cantora) e Jude Law, encabeça uma competição de luxo: fitas de Andreï Zviaguintsev, Christophe Honoré, David Fincher, Denys Arcand, Emir Kusturica, Gus van Sant, Joel & Ethan Coen, Kim Ki-duk e Quentin Tarantin, entre outros.

Foto de Macall Polay/Jet Tone Films

Lisboa: cidade perdida


Ou muito me engano, ou as eleições intercalares para a Câmara Municipal de Lisboa podem desembocar num autêntico «pântano político», para usar uma frase conhecida. O resultado parece-me imprevisível. Ninguém, na verdade, estava preparado para este sufrágio. Esperemos pelas propostas, mas por enquanto o cenário é mau.
Para o PS, mais do que uma eleição, trata-se de um referendo ao Governo. A escolha de António Costa assim o indica.
Para o PSD, cuja voz mal se consegue ouvir, é um teste, provavelmente fatal, à liderança de Marques Mendes. E a escolha atribulada de Fernando Negrão é um prenúncio.
O CDS está numa bela alhada. A apresentação tardia de um candidato mostra o pânico que deve estar a bater à Porta, passe o trocadilho, do Largo do Caldas. Não deixa de ser engraçado que, após a apressada eleição do Paulinho das Feiras, o partido esteja à beira do segundo desaire: primeiro na Madeira (em que passou a ser a quarta força política) e agora em Lisboa.
O Bloco de Esquerda tem em Lisboa um momento decisivo. Também este escrutínio será um referendo ao estilo de vereação impresso por José Sá Fernandes.
Nestas contas talvez só o PCP esteja mais desafogado. Partido essencialmente autárquico, pelo menos ao nível de resultados e de expressão política, os comunistas têm obra feita e experiência acumulada. Ruben de Carvalho não entusiasma novos eleitores, mas também não desilude os militantes e simpatizantes.
Carmona Rodrigues e Helena Roseta jogam as suas últimas cartadas políticas. Com uma derrota, perdem para sempre a popularidade política de que gozam actualmente. Com uma vitória, acentuam a desconfiança em relação aos partidos políticos.
Mas quem ficará seguramente a perder é Lisboa. Nos próximos dois anos pouco se fará pela cidade. A capital estará em suspenso, a tratar de problemas financeiro, até que as eleições autárquicas de 2009 estabeleçam definitivamente a regularidade camarária.
O Tejo e as colinas mereciam melhor sorte.

A Lula e a Baleia, de Noah Baumbach



Um dos melhores filmes que vi nos últimos anos. Pena tê-lo visto tão tarde. A Lula e a Baleia devia ser obrigatório na Escola Primária. Toxic Parents - todos temos. Problemas de identidade - também. E baleias com pouco respeito pelos outros, mesmo se estiverem envolvidos muitos tentáculos - muito frequentemente. Claro que isto diz pouco do filme. Mas não interessa. Só vendo. Só sentindo. Só recordando. Tentemos uma aproximação, no entanto. Um casal decide finalmente separar-se. Ele é escritor, falhado. Ela escritora, à beira do sucesso. No meio da tempestade em que esta situação os arrasta ficam os dois filhos. O mais velho, adolescente. O mais novo, a sair da infância. Uma crise familiar filmada com extrema sensibilidade e fina ironia, relatando situações que, apesar de concretas, são em tudo universais. A custódia dividida, os amantes que surgem pelo caminho, as ideias feitas, maternas e paternas, boas e más, os sonhos desfeitos. Excelente. Para ver e rever. Em todas as idades.

15 May 2007

Depressão cinematográfica


É oficial: Lars von Trier está deprimido e não filma, noticia hoje o Diário de Notícias, citando o jornal Politiken. Incapaz de se concentrar, o realizador dinamarquês não sabe quando voltará a trabalhar. «Esta situação pode durar alguns anos até ficar resolvida, ou pelo menos é o que me têm dito», adianta. Em preparação estava Antichrist, uma fita de terror sobre um mundo criado por Satanás. Mas «não é possível fazer um filme e estar deprimido ao mesmo tempo», afirma. Von Trier diz que, a certa altura, tudo lhe pareceu «uma folha de papel em branco». E acrescenta: «Isto é muito estranho para mim porque sempre tive pelo menos três projectos na minha cabeça ao mesmo tempo».

Notícia original aqui. Foto de Thomas Borberg

Que expectativas?

Era uma publicidade curiosa. Em cima, dizia: Supere as suas expectativas. Em baixo: Fumar prejudica gravemente a sua saúde.

13 May 2007

O Eco de Pombal

O Eco de Pombal comemora, este mês, 75 anos de existência. Um feito notável no actual panorama da imprensa regional. Além da edição em papel, todas as quintas-feiras nas bancas, o jornal dirigido por Paula Sofia Luz tem ainda um site na Internet, com actualizações regulares. Um exemplo de quem procura dar qualidade ao «maior jornal da nossa rua».

Primeira Liga

Está tudo em aberto, como antigamente, no campeonato português. E ainda bem. É bom ver futebol assim. Disputado até ao último minuto. Parece-me, porém, que o Benfica leva vantagem. Não tem um jogo difícil (Académica em casa). Não tem nada a perder. E tem uma equipa experiente. Sabe lidar com a ansiedade. Vamos ver o que nos reserva o próximo domingo.

11 May 2007

Separados à nascença



Vi esta semana Os Outros, de Alejandro Amenábar, que saiu com o Expresso. Lembrou-me O Sexto Sentido, de M. Night Shyamalan. Dois bons filmes (nada mais, nada menos), com dois bons actores (por vezes mais, por vezes menos), que só têm um problema: não sobrevivem a um segundo visionamento. Tudo se perde depois de descoberto o enigma. E isso diz tudo de um filme.

A Casa dos Encontros, de Martin Amis

A Casa dos Encontros, o último romance de Martin Amis, acaba de chegar às livrarias portuguesas. A edição é da Teorema, que já publicou O Comboio da Noite; Água Pesada; Money e O Cão Amarelo, entre outros. O escritor inglês regressa ao ambiente de Koba, O Terrível para descrever a vida nos Gulags russos, durante a liderança de Estaline. Vidas destroçadas por guerras e prisões, esperanças e derrotas, num triangulo amoroso que esconde um destino: dois irmãos apaixonados pela mesma mulher. O romance adopta a forma epistolar, uma longa carta dirigida à enteada do narrador. Passado e presente cruzam-se tendo em vista a caracterização das causas da decadência dos povos russos. Em pano de fundo, o assalto à Escola N.º 1 da Ossétia do Norte pelos rebeldes tchetchenos. Em pano de memória, os confins do árctico. No agora, um sofrimento que tarda em desaparecer.

Cabeça de esquerda

Foi o que faltou a Ségolène: usar a cabeça. Como aqui.

10 May 2007

Novos Mundos


A Nasa acabou de divulgar imagens do planeta mais quente até agora descoberto fora do Sistema Solar. Mais informações aqui.

09 May 2007

The Fountain, de Darren Aronofsky



Foi discreta a passagem de The Fountain, a última longa-metragem de Darren Aronofsky, pelas salas portuguesas, depois de ter recebido honras de fecho no Fantasporto. Mas a verdade é que o filme desilude, sobretudo quando visto na sequência do estimulante Pi (1998) e do inesquecível Requiem for a Dream (2000). Faltam as imagens de marca da sua realização, o ritmo inebriante da história e aquele universo pessoal e reconhecível oferecido nas fitas anteriores. Resta-nos a sobreposição engenhosa de três registos, três versões da mesma história em três épocas diferentes: num presente dominado pela ciência, num passado regulado pela fé e num tempo suspenso de vida baseado na esperança. Esperemos pelos já anunciados Black Swan, em 2008, e The Fighter, em 2009.

A TV do futuro?

A RTP iniciou uma parceria com o site YouTube com o objectivo de facilitar o acesso a alguns dos seus melhores programas, como o Gato Fedorento, Sempre em Pé, ou 50 anos, 50 notícias. Para ver aqui.

Tríptico III

Sentiu aquilo que se costuma dizer que existe. Tinha chegado o seu momento. Sabia-o. Depois de tantos lamentos, sofrimentos, auto-comiseração e pena de si próprio, podia afirmar aquilo que sempre sonhara. Um ser galante, «Hello, darwling», destemido, «You talkin' to me?», carismático, «Borges, Jacinto Borges». No meio de tanta excitação, não reparou que levava vestido o plano quinquenal de prendas de Natal da sua avó. Um par de meias, «para o Inverno», em 2002, umas cuecas-boxer, «para experimentares», em 2003, umas pantufas com os dedos recortados, «são tão giras», em 2004, um pijama de seda, «porque mereces», em 2005, e um roupão, «já és um homem», o ano passado. Sentia-se bem. Confiante. Subiu as escadas com fé na reputação futura, já à espera do telefonema da sua colega de carteira, quando esta visse a sua cara no jornal. «Oh supremo Deus que governas a Terra e o Céu», dizia, «dai-me a glória eterna». No meio dessa agitação não reparou que porta se abriu e que uma arma apareceu do nada. A polícia ainda investiga o caso.

Assim

Chegaram, estacionaram o carro e foram-se embora. Nem cinco minutos depois, o eléctrico por ali não conseguiu passar. Portugal é um bocado assim.

E assim também

Não conseguindo passar, saíram do eléctrico, reuniram forças, pegaram no carro junto à roda, afastaram-no para a direita e seguiram caminho. Portugal é um bocado assim também.

08 May 2007

Peregrinos Séc. XXI

São muitos os caminhos que os peregrinos percorrem até chegarem a Fátima. Os do repórter da Rádio Renascença podem ser acompanhados aqui. Textos, fotografias e vídeos de uma tradição que continua a ser o que era.

I'm back...

... to the Matrix. Texto entregue, pronto a sair das rotativas. Regresso à vida.

07 May 2007

Sinos e cabeças

Disseram-lhe que tinha cabelo à boca-de-sino. Ele, indignado, abanou a cabeça. Que não tinha. Enquanto nisto penava, deram as doze badaladas.

04 May 2007

Relatório minoritário

Acordar. Escrever. Almoçar. Escrever. Jantar. Escrever. As refeições não estão garantidas. A escrita sim. Os dedos não se queixam. Eu também não. A emissão prossegue dentro de momentos. A culpa é dele.

03 May 2007

Sextante Editora

A Sudoeste Editora, de João Rodrigues, vai mudar de nome. A partir deste mês de Maio passa a chamar-se Sextante Editora. A alteração é justificada pela necessidade de «evitar confundibilidade com outras marcas existentes no mercado português». As próximas novidades, Terra, de Jorge Reis Sá, Em Xeque, de Berta Marsé, e Cornos da Fonte Fria, de Abel Neves, vão chegar às livrarias já com o novo logótipo e a nova designação.

Riga

Foto de .j.

Tríptico II

O que ouviu, em primeiro lugar, foi o tiro. E depois o som de alguém a cair no andar de cima. Sentiu um frenesi tremendo. Uma adrenalina só comparável ao dia em que pediu em namoro a sua colega de carteira. Após muito silêncio, muita conversa não verbal totalmente incompreendida, muita hesitação, lá conseguiu dizer: «Queres?». «O quê?», perguntou-lhe ela, desenvolta. «Queres…?» «O quê? Estás parvo?». A deixa animou-o. «É agora», pensou. «Não, estou apaixonado por ti. Queres namorar comigo?». «Claro que não. Não estás parvo, estás é maluco…» Levou anos a recuperar do choque, numa penitência celibatária que levantou sérias dúvidas na sua família. Mais tarde, substituiu a derrota pelo conformismo. A vida, a ser qualquer coisa, era esse nada que se erguia todos os dias com ele da cama. Nada mais a esperar. Mas hoje tudo parecia diferente. «Queres ajuda?», disse de si para si. «Desta vez não aceito uma recusa. Aqui vou eu, sejas lá quem fores.». Ergueu-se ainda de pijama e saiu de casa para um admirável mundo novo.

A não perder

Já vi quase todos os filmes de Jia Zhang-Ke (n. 1970, Fenyang, China). E não vou perder este.

Banco (pouco) Mundial

Continua a saga da ilícita promoção da namorada do presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz, nomeado após forte pressão de George W. Bush. Onde quer que trabalhe, o estratega da Guerra do Iraque cria sempre situações explosivas. O mais interessante, para exemplo das democracias modernas, é a forma como tudo isto está a ser discutido. É a honra dos próprios funcionários que está em causa. E eles são os primeiros a querer o assunto esclarecido. É por isso que todas as informações estão disponíveis aqui. Era bom termos um escrutínio semelhante nas nossas nomeações (e promoções) governamentais e camarárias.

Dar a cara, mas nem sempre

Sinceramente não percebo. Telmo Correia foi eleito, por unanimidade, líder da bancada parlamentar do CDS-PP, como se pode ler aqui. Sinceramente não percebo como é que alguém que viveu sempre na sombra do seu chefe, leia-se Paulo Portas, e que perdeu um congresso conquistado à partida, e que agiu constantemente mais por interesse próprio do que por interesse colectivo, pode continuar a estar na primeira linha da política portuguesa. Alguns chamam-lhe táctica, outros realpolitik. Eu só me lembro do Conde d'Abranhos, o tal que queria ser ministro.

02 May 2007

A queda do mito


Caiu o mito do treinador invencível. Ainda bem. Talvez assim o futebol possa voltar a ser o que era. Jogado com fair-play, livre das contratações milionárias e apenas um desporto. Ver notícia aqui.

01 May 2007

1.º de Maio


Vale sempre a pena recordar. Sempre.

Tríptico I

O problema estava dentro de si. Sabia-o. Arrastava a sua existência numa monótona agonia. Sem querer nada em especial, desejando tudo ao mesmo tempo. Saía de casa sem propósito, sem vontade até. Mas saía. Algo decidia por si. Primeiro para comprar o jornal, que nunca lia, depois para um café matinal, que nunca lhe fazia bem. Deixava-o indisposto. Seguia-se a deambulação diária sem destino. O centro comercial, para não apanhar sol, ou chuva, o argumento servia nas duas circunstâncias, as ruas do bairro, para ficar a conhecer as novidades da vizinhança, e a baixa, ao final do dia, para sair da rotina. Mas naquele dia não fez nada disso. Deixou-se ficar deitado. Não havia motivos para obedecer à vida que não escolhera. Além do mais, estava farto. «Merda», dizia a cada cinco minutos. «Merda», gritava interiormente, num monólogo que continuava a longa conversa que mantinha consigo mesmo. Só não sabia que tão involuntária opção, como involuntária teria sido a de se levantar, tomar banho, comprar o jornal e passear, iria mudar completamente a sua vida.

Balaou, de Gonçalo Tocha

Independente mais independente não há. E surpreendente também. Balaou, o primeiro filme de Gonçalo Tocha, que apenas ambicionava ser um dos seleccionados do Indie Lisboa, arrecadou os principais prémios da competição nacional: melhor fotografia e melhor filme. Um distinção que premeia, por um lado, o espírito do festival, a total independência face a qualquer tipo de indústria, e, por outro, a autenticidade, a entrega e a ousadia do projecto.
Sete meses depois da morte da sua mãe, Gonçalo Tocha partiu para os Açores. Precisava de parar, reencontrar as suas raízes, a família, especialmente a sua tia-avó de 91 anos. No fundo, ver o mundo tal como a sua mãe o vira: de uma ilha para o continente, de uma comunidade para uma família, da vida para a doença. Levou consigo uma câmara de filmar, sem grande intenções, e começou a captar imagens. Os primos recém-nascidos, as conversas sobre o passado e o futuro, as paisagens e os suspiros.
É nesta deambulação um pouco claustrofóbica que o acaso lhe indica o caminho. Um casal de franceses, que todos os anos cruzam o oceano Atlântico de barco, entre as Caraíbas e a Europa, convida-o para uma viagem de «regresso». De regresso ao quotidiano e à vida. Um regresso a si próprio. Mas Gonçalo não chegará o mesmo. A bordo do Balaou o jovem realizador, nascido em Lisboa, em 1978, e com formação em Língua e Cultura Portuguesa, interioriza lições marítimas que se aplicam em terra firme. E que aos poucos se tornarão bússolas para os dias que hão de vir.
Oscilando planos fixos e a câmara ao ombro, retendo longamente a flutuação das ondas ou a luminosidade do céu, Balaou apresenta-se como um filme iniciático, dividido em oito lições, tantas quantas as jornadas da viagem. Pessoal e universal, íntimo e transmissível, Balaou faz da catarse esperança, envolvendo o espectador numa aprendizagem que se faz interiormente.
Mais do que premiar um grande filme – Balaou tem as suas limitações, a principal é a opção pela narração que, gravada posteriormente, introduz um elemento de artificialidade num filme em tudo o resto autêntico – o júri distinguiu uma atitude. Porque tanto faz que seja a vida a imitar a arte, ou a arte a imitar a vida, desde que, no meio disso tudo, esteja lá uma câmara pronta para filmar.

Publiquei isto aqui, onde estão mais críticas sobre o Indie Lisboa.

Pontes e margens

«Não havia ponte, mas mesmo assim chegou ao outro lado. Naquele rio não havia margem para dúvidas», lembrou o rapaz.

O jovem Fassbinder


Fassbinder realizou três curtas-metragens, antes de se lançar nas longas, com O amor é mais frio do que a morte. Da primeira, The night, não existem cópias. As restantes surgiram depois do jovem dramaturgo, bastante conhecido na altura, ter reprovado na candidatura à Academia de Cinema de Berlim. O que mais surpreende nestes trabalhos de formação, que passaram recentemente na Cinemateca, integrados numa retrospectiva completa, é a sua maturidade.
Filho de pais separados, Fassbinder habituou-se a ir ao cinema muito cedo, sobretudo com o pai, que vivia em Colónia. Era capaz de ver vários filmes seguidos, em particular os gangsters norte-americanos, que faziam as delícias de quem queria escapar ao já monolítico mainstream de Hollywood. É esse universo, que também foi decisivo para a Nouvelle Vague francesa, e para realizadores tão importantes como Godard, que ressoa nestas duas experiências de dez minutos cada. Mais na segunda do que na primeira, já que esta foi feita em resposta a O Signo de Leão, de Eric Rohmer, filme que Fassbinder gostava muito. Mas vejamos (salvo seja, claro).
Em O Mendigo (1966), um sem-abrigo vagueia pelas ruas de Munique. O ambiente urbano é mostrado logo de início, com um longo plano-sequência que capta os eléctricos a partir, a agitação dos carros, a correria dos transeuntes que rumam a casa no final de mais um dia. Na madrugada seguinte, escondido numa paragem, com uma garrafa vazia ao seu lado, o mendigo vive a solidão da sua existência. Sem destino, encaminha-se para um parque. É nessa trajectória que descobre, no chão, uma pistola. A vida, com a proximidade da morte, ganha um novo sentido. E a concretização dessa possibilidade de vida e de morte anima-o. Mas o acto terá de ser bem feito. Cuidado. Estudado. Meticuloso. Mas a um mendigo nada mais resta do que ser malogrado. Frustrado. Roubado. Destituído de esperança. E em jeito de paródia, duas pessoas que surgem do nada roubam-lhe a pistola. Nem ir desta para melhor é permitido a um mendigo.
A fita seria recusada pelo Festival de Oberhausen, na altura a mais importante mostra de curtas-metragens do mundo, e uma comissão de avaliação não lhe atribuiu o certificado de qualidade que asseguraria ao realizador descontos nos impostos. «Recusar a coisa quase racista que é um certificado de qualidade a um filme tão bem enquadrado e montado como este, num país cuja produção cinematográfica era insignificante», escreve António Rodrigues na folha da Cinemateca dedicada ao filme, «é mais uma prova de que há momentos em que a renovação do cinema só pode ser feita através de alguma violência ou alguma marginalidade». Foi esse o caminho de Fassbinder. «Esta primeira curta-metragem não foi uma experiência, nem uma tentativa, foi uma afirmação.»
Poucos meses depois, Fassbinder realizou O pequeno caos (1967), esta sim uma autentica história de gangsters, como será a trilogia O amor é mais frio do que a morte (1969), Os deuses da peste (1969) e O soldado americano (1970). Outra vez com Munique em pano de fundo, três amigos procuram desesperadamente dinheiro. Tocam às campainhas, entram em prédios, batem às portas, tentam vender assinaturas de revistas, mil e uma artimanhas sem resultado. A única solução é assaltar alguém desprevenido. E é isso que fazem. A realização e a montagem são, aqui, mais ritmadas, com a utilização do plano e contra-plano. Quem bate à porta, que está do outro lado, quem quer vender, quem recusa comprar. A curta acaba com uma sequência extraordinária, e contamo-la, tal como nos alongámos no filme anterior, porque ambos raramente passam nas salas portuguesas. Depois do assalto bem sucedido, e ainda na casa da pobre senhora, Fassbinder, que faz o papel principal, pergunta à única rapariga do grupo: «O que vais fazer com este dinheiro?». Ela responde-lhe: «Não sei, comprar qualquer coisa bonita, um vestido». E, virando-se para o terceiro membro do grupo, um homem, diz: «E tu?». «Talvez um brinquedo para o meu filho.» «E tu?», perguntam os dois. Fassbinder, sintetizando a sua carreira futura, dispara: «Eu vou ao cinema!»

Excertos destas duas curtas-metragens podem ser vistos no site da Fundação Rainer Werner Fassbinder, aqui e aqui.


Ainda a repensar Abril

Tenho acompanhado com interesse a «polémica», se assim se pode chamar, sobre o discurso do Presidente da República nas comemorações do 25 de Abril. O artigo do António Barreto, no Público de Domingo, é uma leitura certeira do que se esconde por detrás da aparente vontade de servir Abril e os jovens. Como a secção opinião não pode ser consultada no site do Público, deixo-vos aqui o essencial:

Quem a tem chama-lhe sua
António Barreto

(...) Nestas festas de comemoração da liberdade, Cavaco Silva nada tinha para dizer. Ou nada queria dizer, o que é bem diferente. Assim, para apesar de tudo não fazer figura de corpo presente, fez o que pôde para ser original. Pôs em causa o sentido e a oportunidade das festas oficiais.
O que é estranho: ninguém aceita um convite para um aniversário para, em casa do anfitrião, discorrer melancolicamente sobre a inutilidade da festa. Socorrendo-se de clichés, falou em nome da juventude, a quem aquela cerimónia nada diria. O argumento é antigo. Mas há qualquer coisa que deixa um incómodo. Não faz sentido querer forjar, ou forçar, a partir do Estado, uma festa jovem, civil e cultural. Esta já se faz. Enquanto houver comunistas, socialistas, gente de esquerda em geral, com mais de umas décadas de idade, haverá festa. É, em boa medida, a festa deles.
As direitas nunca festejaram o 25 de Abril, até por causa do que se lhe seguiu.
Quando um dividido deputado do PSD afirma, como é o caso há anos, que "o 25 de Abril é de todos", está ingenuamente a confessar que de facto não é.
As festas são, numa parte, das esquerdas, que aproveitam o dia para arrasar as direitas, o centro, os governos, os liberais e os patrões. Noutra parte, são dos militares que fizeram a "inesquecível jornada" e que deveriam ter, por gratidão, um belo desfile militar a preceito.
A verdade é que, em todo o país, há, nesse dia, milhares de festas, civis ou autárquicas, quase sempre com o mesmo objectivo: dar voz às reivindicações dos trabalhadores, dos sindicatos, das esquerdas e de alguns intelectuais e artistas. A que não faltam churrascos, bailes e cerveja. Deixem-nas viver, enquanto há, porque é bem possível que, dentro de anos, também o 25 de Abril siga o caminho das praias e dos Centros Comerciais. Quanto ao Parlamento, que produza anualmente aqueles discursos geralmente destituídos de inteligência, novidade ou sentido: dali não vem mal ao mundo. Nem bem.

In Público, de 29 de Abril de 2007

28 April 2007

Repensar Abril

Excelente artigo de Pacheco Pereira hoje, no Público, sobre o discurso do Presidente da República nas comemorações dos 33 anos do 25 de Abril. Mais do que manifestar uma preocupação, a de que as pessoas estariam a esquecer a Revolução e o seu significado, o que Cavaco Silva expressou foi o seu desejo de matar Abril. Esvaziá-lo de sentido, retirá-lo do património da esquerda, afastá-lo da rua. E o mais preocupante é o alinhamento do PS, do PSD e, como não podia deixar de ser, do CDS-PP com esta posição. Tudo se contesta neste país, menos o que podem os políticos fazer para valorizar o nosso património histórico. Basta lembrar, a este propósito, como a muitos outros, que as duas iniciativas da Assembleia da República dirigidas ao grande público foram Serralves em Lisboa e, agora, a Colecção Berardo. Duas exposições que servem mais para 'actualizar' os senhores deputados, sempre muito ocupados para contactar directamente com país, do que para aproximar eleitos e eleitores. O que se tem feito, da Assembleia da República ao Poder Local, para perpetuar os feitos de Abril? Pouco, muito pouco. E mesmo esse quase nada é sempre olhado de lado. Como se lutar foi de antigamente.

27 April 2007

All these voices



Fidelity, de Regina Spektor, in Begin To Hope (2006). Para ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir. Muitas vezes.

Câmara Clara

Olga Roriz e Maria José Fazenda são os convidados do próximo Câmara Clara, apresentado por Paula Moura Pinheiro. O Dia Mundial da Dança, que se celebra precisamente no domingo, 29, quando o programa vai para o ar, é o ponto de partida para um diagnóstico daquela arte em Portugal. Outro pretexto será a presença, em Lisboa, do bailarino e coreógrafo nova-iorquino Bil T. Jones, que regressa aos palcos do CCB, nos dias 4 e 5 de Maio, com Blind Date. Os concertos de Camané, no São Luiz, a ópera de Rossini, no Teatro Nacional de São Carlos, e as mais recentes novidades editoriais serão também abordados em reportagens específicas. Clamara Clara passa aos domingos, às 22 e 40, na RTP 2, repetindo às terças, às 2 e 15 da madrugada. No site do programa, aqui, pode ver as edições anteriores.

Novo romance de Mia Couto

Mia Couto, recentemente distinguido com o Prémio União Latina, está a escrever um novo romance, ainda sem título. Em entrevista à Visão de ontem, o escritor africano afirmou que se trata da «história de uma mulher europeia que vem para África à procura do marido». Nesse processo de procura, «ela cruza-se com uma família africana que, por sua vez, sabe coisas a respeito do seu marido». Duas vidas que se encontram e que dão continuidade à caracterização histórica e cultural de Moçambique que o autor tem vindo a desenhar na sua obra, desde a estreia, em 1983, com o volume de poemas Raiz de Orvalho, ao mais recente romance, de 2006, O outro pé da sereia, sempre com a chancela da Caminho.
Na mesma entrevista, Mia Couto mostra-se feliz por ter sido o primeiro escritor africano a receber o Prémio União Latina, no valor de 12 mil euros (metade para suportar custos de tradução), esperando que esse facto possa lançar novas pontes entre Europa e África. Descreveu também a sua relação com a Língua Portuguesa: «O que me apaixona na Língua Portuguesa é quanto ela pode deixar de ser portuguesa, o quanto ela pode ir além dos seus próprio limites». E acrescentou: «Mas isto não é apenas uma questão de mera ordem decorativa. Quero mostrar que esta maneira de recriar o português tem a ver com outras filosofias, com outra epistemologia dos povos que, nesta região de África, usam o português. Não é uma necessidade só literária, é também social.»

A força e os outros

Que força é essa
que trazes nos braços
que só te serve para obedecer
que só te manda obedecer
Que força é essa, amigo
que te põe de bem com outros
e de mal contigo
Que força é essa, amigo

Que força é essa, de Sérgio Godinho, in Sobreviventes (1971)

26 April 2007

Repensar a Revolução


Será que é isto que o Presidente da República tem em mente quando diz que devíamos repensar a Revolução?
Foto de .j.

Caminho

«Partiu com vinte anos de atraso, mas foi o primeiro a lá chegar. Seguiu o seu próprio caminho», contou o rapaz.

25 April 2007

24 April 2007

Abismo

Não se sai do abismo, aprende-se a sua linguagem

in Omertà, de Vasco Gato (ed. Quasi)

Bigdoy


Para os Babous. Foto de .j.

O de todas as semanas

Depois de estar nas bancas, aos sábados, o Sol é gratuito às segundas. Em PDF.

O de todos os dias



A NASA divulgou as primeiras imagens do Sol a três dimensões. Sublime.

23 April 2007

Liberdade, Liberdade

A Câmara Municipal de Lisboa vai comemorar o 25 de Abril com a inauguração do Túnel do Marquês de Pombal. Não admira que a Liberdade ande tão sombria.

E na segunda volta?

Há 40 anos que não se via nada assim. A taxa de participação nas eleições francesas, realizadas ontem, foi de 85 por cento. Depois de anos de turbulência política, os franceses parecem ter algo para dizer. Esperemos agora pelos resultados. Notícia aqui.

A Scanner Darkly, de Richard Linklater



Richard Linklater é um realizador curioso. Tanto assina filme de culto, como cede aos cânones de Hollywood. São as regras da sobrevivência na indústria mais poderosa do mundo. Mesmo assim, os seus projectos pessoais valem mais do que os esforços para equilibrar o orçamento. No Indie Lisboa passou o seu trabalho mais recente, A Scanner Darkly, um projecto que mistura a linguagem tradicional do cinema e as potencialidades da animação, na mesma linha de Waking Life. Essa componente híbrida é, de resto, um dos aspectos mais interessante do filme, na medida em que explora até ao limite as características intrínsecas do medium que utiliza. Uma das questões centrais do filme – quem é quem ou quem se esconde por detrás da máscara – só é possível através do uso da animação. Através dela o protagonista vai construindo (e perdendo) a sua identidade, pensado ser uma coisa, acreditando ser outra, confundindo as duas. Outro aspecto forte do filme é o argumento, do próprio Linklater, adaptação de um livro de Philip K. Dick. Bem ao seu estilo, o escritor norte-americano projecta, num mundo não muito distante, uma sociedade tiranizada pelo consumo de drogas – a substância D (de dependência, desistência, desconsolo, de morte, death, em inglês) – e por uma grande empresa – a Novo Caminho. Apesar de ocultos pela animação – o filme foi rodado normalmente, durante sessenta dias, e depois ‘animado’ em computador, ao longo de um ano – há alguns actores que se destacam. Sobretudo Woody Harrelson e Robert Downey Jr, extraordinários na recriação de um viciado. Dirigido muito provavelmente a um público reduzido, A Scanner Darkly é, a par de 300, de Zack Snyder (rodado na íntegra em estúdio), uma antevisão das possibilidades e dos riscos que atravessa o cinema contemporâneo.

Dia Mundial do Livro

Hoje é o Dia Mundial do Livro. Celebre a maior invenção da Humanidade, depois da Literatura (e do fogo e da roda, etc, tudo secundário neste contexto). Compre um livro, leia um lilvro, empreste um livro. Escreva um livro.

22 April 2007

Climas, de Nuri Bilge Ceylan



Climas (Iklimler) é a quarta longa-metragem do realizador e fotógrafo turco Nuri Bilge Ceylan, nascido em Istambul, em 1959. Koza foi a sua estreia na sétima arte, uma curta-metragem seleccionada para o Festival de Cannes, em 1995. Seguiram-se os filmes Kasaba (1997), Mayis Sikintisi (1999) e Uzak (2002). Misto de road-movie e de retrato psicológico, Climas conta os encontros e desencontros de um casal, Isa e Bahar, interpretado pelo próprio realizador e pela sua mulher (a expressiva actriz Ebru Ceylan). «O Homem foi feito para ser feliz por simples razões e infeliz por razões ainda mais simples - assim como ele nasce por simples razões e morre por razões ainda mais simples... Isa e Bahar são duas figura solitárias, que se arrastam pelas mudanças climáticas constantes do seu eu-interior, em busca de uma felicidade que já não lhes pertence», explica Nuri Bilge no seu site oficial. Ao captar essa errância, Climas fixa também a temperatura de um país, assolado por chuvas, nevões e um sol abrasador. Contrastes que justificam a indefinição das personagens. Mais do que o argumento, um mero pretexto, o filme vale pelo contextos que descreve, pelos enquadramentos - dignos de um excelente fotógrafo - e pelos grandes planos que nos aproximam intensamente das personagens. A sequência inicial, a conversa na praia, a viagem de mota (excelente), o reencontro já no final e o quarto de hotel são verdadeiros retratos em movimento, que tanto nos mostram a aparência, quando o abismo (e o sofrimento) que separa duas pessoas aparentemente tão próximas. Depois de As Tartarugas também voam, este do Irão, mais uma boa surpresa da cinematografia do Médio Oriente.

Pós-pós

«Vivemos numa época pós-ideológica», afirmou Paulo Portas, no discurso de vitória nas directas do CDS-PP. A declaração é todo um programa. Como dizia Slavoj Žižek, em Elogio da Intolerância (ed. Relógio d'Água), nos dias que correm já não se sabe muito bem o que defende a esquerda, o que defende a direita. Essa confusão só beneficia políticos como Portas. Pós-políticos, portanto. Vivemos numa época em que defender algo num dia e o seu contrário no seguinte é legítimo. Vivemos numa época em que dizer e fazer não têm necessariamente de rimar. Vivemos numa época triste. Como triste é ver os cães de fila a seguir a voz do dono. Sem ideias próprias, sem ambições, apenas agarrados ao pouco que têm, ao quase nada que desejam para o país. A Ribeiro e Castro sobra a honradez, o que, não sendo suficiente para suportar uma ideologia, é bastante para definir um homem.

O que fazer com ele

«O problema não é estar meio cheio, nem meio vazio», disse o rapaz. «O problema é a existência do copo em si. É isso que determina a necessidade de o encher, ou de o esvaziar.»

A vida inteira

Cada qual é que escolhe aonde vai
Hora-a-hora e durante a vida inteira

Podes ter uma luta que é só tua
Ou então ir e vir com as marés
Se perderes a direcção da lua
Olha a sombra que tens colada aos pés

Senta-te aí, dos Rio Grande, interpretado por Jorge Palma

21 April 2007

Den Norske Opera


Foto de .j.

Boa nova

Saiu de casa para divulgar a sua boa nova. Cerca de quinhentas páginas da mais intensa prosa que alguma vez escrevera. Correu meio mundo, foi bater a todas as portas, explicou e argumentou com quem lhe apareceu à frente. Mas nenhuma editora o aceitou.

Fim-de-semana

Sábado e Domingo - uma pausa para a vida.

20 April 2007

Oslo


Foto de .j.

19 April 2007

Jacques Le Goff

Foi um período histórico que aprendi a gostar. Não foi imediato. Antes pelo contrário. Primeiro chegou o Egipto, a Mesopotâmia, o classicismo grego e romano, a exuberância do Renascimento e a actualidade contemporânea. Só depois a Idade Média. Ainda estou para me reatar com o Iluminismo – demasiada atenção ao progresso.
Aos pouco fui descobrindo os encantos de uma época – longa, de cerca de 1000 anos – que moldou o nosso modo ocidental de viver, centrado na religião – praticante ou não – no conhecimento humanista – universitário ou não – e nas trocas comerciais – forçadas ou não. Acima de tudo fascina-me a redescoberta do Mundo. Após as grandes mitologias da antiguidade, os homens e as mulheres da Idade Média reconstruíram a sua percepção do mundo, imaginando paraísos e purgatórios, festejando o Carnaval e jejuando na Quaresma, cultivando o latim e a desenvolvendo regionalismo, fixando-se definitivamente na terra e viajando pelos mares desconhecidos. Contrastes que mostram, no fundo, a duplicidade humana, metade luz, a restante sombra. Uma parte sonho, a outra, receio.
Entre os vários investigadores que estudaram essa época, surgem à cabeça Georges Duby e Jacques Le Goff, ambos da École des Annales, movimento que revolucionou a nossa ideia de História. Do segundo, acabam de sair duas traduções de livros recentes. A Idade Média para principiantes, na Temas e Debates, uma excelente e esclarecedora introdução, para miúdos e graúdos, e Por amor às cidades, na Teorema, um confronto entre as cidades de hoje e de outrora, com paralelismos e abismos. Além de uma entrevista no JL, nas bancas na próxima terça-feira, 24 (por causa do feriado), podem encontrar mais informações aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

Pintura de Pieter Bruegel, A luta entre o Carnaval e a Quaresma, 1559

Susana Anágua


Gosto muito do trabalho da Susana Anágua. Tem qualquer coisa de surpreendente, de inesperado, de sublime, até. Um sensação que se repete em cada exposição. Ela faz essencialmente vídeos em unidades fabris, de cimento e outros materiais. E dentro dos armazéns, dos grandes átrios, ou mesmo junto às máquinas consegue captar uma beleza pura - porque não manipulada - e constante - porque regulada pela monotonia dos aparelhos. A certa altura do terceiro filme do Matrix, um dos senadores pergunta a Neo por que razão luta contra as máquinas quando sem elas a vida, naquele enésimo andar subterrâneo, seria impossível. E exemplificava a sua teoria apontando para as condutas de ar e as cisternas que tornavam a vida possível. É essa contradição que a obra de Susana Anágua me suscita. Como é que algo aparentemente tão inumano consegue tocar-nos fundo? Como é que uma estética gerada por si própria consegue pôr em causa teorias construídas ao correr de séculos de arte à escala humana? Tudo isto (acho eu) pode ser comprovado na mostra que se inagura depois de amanhã, sábado, 21, na Galeria Presença, no Porto. Chama-se Natureza Mecânica, Episódio 2: A Desorientação.

Memories are made of this



Uma sequência de antologia. Para ver e rever. Muitas vezes. A Saudade de Veronika Voss, de Reiner W. Fassbinder.

18 April 2007

Integral, como eu gosto

Já mo disseram muitas vezes: «Não esgotes o autor». Mas eu não consigo. Não sei evitá-lo. Cada descoberta arrasta em si uma conquista. E quando se ruma por esse rio acima, desbravando poéticas, estéticas, prosas e versos, tintas e planos, não há meios termos. Começando, não há como parar. Lembro-me da vertigem de Machado de Assis, de Dino Buzzati, de Murnau, de Rossellini, ou das traduções de Aníbal Fernandes, só para referir as obsessões mais recentes. Tenho para mim que só pela soma das partes é possível ir além do todo. Não espanta, nem se estranha, que goste de Obras Completas e de Retrospectivas. Como a de Fassbinder, que hoje se iniciou na Cinemateca. Integral, como as bolachas que eu gosto.

Ver programação aqui.

O melhor de sempre

Vote aqui. Mas com o coração. Esqueça as estatísticas.

Coca-Cola white

Hoje lembrei-me daquele caderno com uma capa da Coca-cola (sabia lá o que era o capitalismo) vermelha e branca, como o logotipo. Não me lembro quando o comprei, nem onde, nem porquê. Só me lembro que do outro lado do quintal ela também tinha um (foi por isso?). E uma blusa e uma saia também. Bonitas. E uma cadeira e uma mesa também. Pequeninas. Ela curvada sobre o caderno, eu empoleirado sobre o muro. Talvez por isso tenha falhado uma vocação. Mas mesmo vazio, aquele caderno, vermelho e branco como o logotipo, encheu-se de quimeras.

Saldos e almas

Sai para a rua
Grita bem alto
Guarda o que és
Vende o resto em saldos

Ouvi hoje, na Radar. Não me lembro do grupo.

17 April 2007

Cadentes. Estrelas

Saiu de casa para olhar o céu. «Segue a tua estrela», disseram-lhe. Olhou, procurou, mas estava de dia. Voltou à noite. Olhou, procurou, mas só havia cadentes.

Welcome to the club

Código Deontológico

1.O jornalista deve relatar os factos com rigor e exactidão e interpretá-los com honestidade. Os factos devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses atendíveis no caso. A distinção entre notícia e opinião deve ficar bem clara aos olhos do público.
2.O jornalista deve combater a censura e o sensacionalismo e considerar a acusação sem provas e o plágio como graves faltas profissionais.
3.O jornalista deve lutar contra as restrições no acesso às fontes de informação e as tentativas de limitar a liberdade de expressão e o direito de informar. É obrigação do jornalista divulgar as ofensas a estes direitos.
4.O jornalista deve utilizar meios leais para obter informações, imagens ou documentos e proibir-se de abusar da boa-fé de quem quer que seja. A identificação como jornalista é a regra e outros processos só podem justificar-se por razões de incontestável interesse público.
5.O jornalista deve assumir a responsabilidade por todos os seus trabalhos e actos profissionais, assim como promover a pronta rectificação das informações que se revelem inexactas ou falsas. O jornalista deve também recusar actos que violentem a sua consciência.
6.O jornalista deve usar como critério fundamental a identificação das fontes. O jornalista não deve revelar, mesmo em juízo, as suas fontes confidenciais de informação, nem desrespeitar os compromissos assumidos, excepto se o tentarem usar para canalizar informações falsas. As opiniões devem ser sempre atribuídas.
7.O jornalista deve salvaguardar a presunção da inocência dos arguidos até a sentença transitar em julgado. O jornalista não deve identificar, directa ou indirectamente, as vítimas de crimes sexuais e os delinquentes menores de idade, assim como deve proibir-se de humilhar as pessoas ou perturbar a sua dor.
8.O jornalista deve rejeitar o tratamento discriminatório das pessoas em função da cor, raça, credos, nacionalidade ou sexo.
9.O jornalista deve respeitar a privacidade dos cidadãos excepto quando estiver em causa o interesse público ou a conduta do indivíduo contradiga, manifestamente, valores e princípios que publicamente defende. O jornalista obriga-se, antes de recolher declarações e imagens, a atender às condições de serenidade, liberdade e responsabilidade das pessoas envolvidas.
10.O jornalista deve recusar funções, tarefas e benefícios susceptíveis de comprometer o seu estatuto de independência e a sua integridade profissional. O jornalista não deve valer-se da sua condição profissional para noticiar assuntos em que tenha interesses.

Agora encarteirado. E o mesmo se aplica neste blog. Para reclamações aqui

16 April 2007

A playlist de...

O horário não é o melhor (de segunda a sexta, das 13 às 14, e ao sábado, às 17). Mas a ideia é boa. Pedir a uma figura pública que seleccione e comente a sua playlist. Pela antena da TSF já passaram Francisco José Viegas (a última semana), Teresa Salgueiro, Vasco Graça Moura, Mário Laginha, Rodrigo Guedes de Carvalho, até o Luiz Filipe Scolari (no melhor pano cai a nódoa). Para os que, como eu, não conseguem ouvir os programas, podem encontrá-los aqui.

16 de Abril

Hoje é dia Mundial da Voz. Celebre-se a arma de todos os povos. Livres ou oprimidos.

15 April 2007

O Caimão, de Nanni Moretti



A lotação estava esgotada. No Saldanha e no King. Não é todos os dias que se pode ver ao vivo um dos mais carismáticos e divertidos (nem sempre, claro) realizadores da actualidade. E não foi preciso esperar muito para se perceber por que razão goza Nanni Moretti desse estatuto. Bastou um sorriso, a sua pronúncia e os comentários jocosos.

O mesmo se pode dizer em relação ao seu último filme, O Caimão, uma pérola da trágico-comédia. Por detrás de uma história banal, a crise de um produtor de série B e a estreia cinematográfica de uma jovem realizadora, desvelam-se as peripécias da história recente italiana. Nos primeiros sessenta minutos a montagem é verdadeiramente genial. Num ritmo frenético, sucedem-se e entrecruzam-se sequências dos filmes do produtor, das histórias que ele conta aos filhos e do guião que a realizadora (a muito bonita Jasmine Trinca) lhe propôs. No meio disto tudo descobre-se um casamento em vias extinção, uma Itália tomada de assalto por um charlatão de óbvias intenções (Berlusconi, para que não haja dúvidas) e um filme que nunca sentirá a luz vibrante do grande ecrã.

Ao enredo e à realização, junta-se um elenco de luxo. Escolhido a dedo. Do produtor (um Silvio Orlando expressivo) ao protagonista do filme-em-curso (um extraordinário Michele Placido, da série Polvo, lembram-se?). O Caimão será, seguramente, um dos melhores filme de 2007.

Site oficial aqui.

Sensações sublimes

Saiu de casa em busca de qualquer coisa grandiosa. Sensações sublimes. Pegou no carro, com a ideia de percorrer o mundo. Mas foi detido pela Brigada de Trânsito. Não tinha seguro, nem carta de condução.

Eadweard Muybridge


Ainda está para ser feita A Verdadeira História das Apostas, dentro do espírito da petit histoire. O mesmo que, nas últimas décadas, tem desvendado os segredos do corpo, do beijo, da lágrima, do casamento, do divórcio, dos bordéis, da representação das nádegas, enfim, de todo um mundo feito de simples pessoas, nem grande, nem pequenas, a não ser nos desejos.

A ser feita essa análise, rapidamente se descobriria os contributos que, ao correr dos séculos, as apostas legaram à Humanidade. Os Jogos Olímpicos eram só para provar a destreza humana? Marco António apaixonou-se por Cleópatra só porque sim? Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança só porque D. João II pediu com jeitinho? Muito antes de rolarem os dados, já a alma humana se desfazia em ilusão e adrenalina.

A aposta daquele dia conta-se em poucas palavras. A maioria defendia que, durante uma corrida, o cavalo tinha sempre uma das patas no chão. Leland Standorf defendia exactamente o contrário: que o cavalo, ainda que por milésimos de segundos, tinha todos as patas no ar. A teoria já tinha sido avançada por Étienne Jules Marey, embora o francês nunca tivesse apresentado dados que a sustentasse. Mas naquele mês de Junho, de 1878, Leland Standorf estava disposto a esclarecer todas as dúvidas.

Ao seu lado, na quinta Palo Alto Stock, tinha Eadweard Muybridge, um fotógrafo inglês que passara os últimos anos a investigar a decomposição do tempo. Divulgada a fotografia, o desafio que se colocava era a fixação minuciosa do movimento. Para isso, Muybridge preparou um sistema que alinhava doze câmaras fotográficas que, ligadas por uma rede de cabos conseguiriam capturar doze exposição em apenas meio segundo.

Mais do que uma aposta, acabava-se de inventar o Cinema. Só que ainda ninguém o sabia.

Relato completo desse dia aqui.

You've got to find what you love

Ainda sobre canudos, doutores e engenheiros, vale a pena ler a intervenção de Steve Jobs, o patrão da Apple e inventor do iPod, perante os finalistas de Sandford.

«Your time is limited, so don't waste it living someone else's life. Don't be trapped by dogma — which is living with the results of other people's thinking. Don't let the noise of others' opinions drown out your own inner voice. And most important, have the courage to follow your heart and intuition. They somehow already know what you truly want to become. Everything else is secondary.»

Texto integral aqui. Versão portuguesa aqui. É um texto grande, mas vale mesmo a pena.

Pensamento socrático

Depois de tudo o que já foi dito sobre a licenciatura do primeiro-ministro, apenas acrescento dois comentários:

1) Para bom entendedor, meia palavra basta: Sócrates escolheu o caminho mais fácil. Disso não se livra.
2) Pior ainda, para o pensamento socrático, como para a maioria dos «políticos de profissão», investir num curso superior e dotar-se de ferramentas para pensar o mundo é completamente inútil. Mero pro forma. Importante são os comícios para as bases. E os jantares com os grupos de influência.

Assim vai a coisa pública.

14 April 2007

A não perder

Está farto da Fnac e dos livros acabadinhos de sair da gráfica? Ainda tem espaço naquelas estantes novas que levou lá para casa? Tem uns trocos extra e não confia na banca? Não está para esperar que os livros subam ao parque Eduardo VII? Então não perca:
Feira de Livro Manuseado da Assírio e Alvim, até 28 de Abril, na livraria da editora na Rua Passos Manuel (n.º 67). Sugestões: Gogol, Deluze, traduções de Aníbal Fernandes e muita Poesia
Volta a Portugal em Livros, até 9 de Maio, junto à Estação de Comboios do Areeiro, na Av. de Roma. Sugestões: Foucault, Meyrink e colecção Pequena História da Terramar.

Quantas vezes

Várias vezes ouvi o rapaz desabafar: «Todos os dias acordo, tomo banho, como, bebo, ando, viajo, ouço, falo, penso, vejo, leio, escrevo, sinto, beijo, amo. Mas muitas vezes esqueço-me de sonhar.»

Aviso à navegação

Secções, muitas. A criar, aos poucos. Comentários aleatórios. Raramente sistemáticos. A ver no que dá.

12 April 2007

Para continuar a conversa (5 + 5 - 5 = ?)

Num artigo recente, publicado no Expresso, Paulo Querido inventariou Cinco razões para um jornalista ter um blogue, seguidas de outras cinco a reforçar a ideia e outras tantas a contrariá-la.

A certa altura escreve:

1) Melhora a escrita
2) Atrai e envolve o público
3) Oferece um melhor entendimento do mundo digital
4) Ajuda a desenvolver alguns conhecimentos técnicos
5) É divertido


Depois, acrescenta:

1) Ajuda a mantermo-nos a par dos assuntos que se desenrolam gradualmente
2) Traz à atenção (através de comentários dos leitores, de referências cruzadas ou simplesmente da procura de algo sobre que escrever) assuntos que passariam despercebidos
3) Ter um blogue permite-nos conhecer outras pessoas e permite que elas nos conheçam. É mais fácil abordar alguém que pode ser uma fonte quando esta pessoa segue aquilo que escrevemos - mesmo que nunca tenha havido um contacto directo
4 ) Permite um registo diferente do da escrita profissional
5) Ensina a comunicar eficazmente na Web»


E um pouco contrariado, remata:

1) É monótono. Podemos escrever o mesmo post seis vezes por ano que ninguém repara. Nem nós
2) É um desperdício de energia. A maioria dos leitores não vai perceber nada porque lê apressadamente e de qualquer maneira já sabe tudo pois leu qualquer coisa sobre o assunto algures um dia destes, na semana passada ou foi há quinze dias?
3) Quando escrevemos que isto é azul, vai aparecer um leitor aos berros provando que é amarelo. É muito desagradável. Para as cores, claro
4) É irritante. Uma pessoa esfalfa-se a escrever um post super-bem, duas horas de pesquisa e três a dar ao dedo, sobre, digamos, as culturas hidropónicas em Marte, e aparecem vinte leitores de rajada na caixa de comentários a discutir animadamente a cor dos suspensórios que fulano teria levado à televisão se por acaso lá tivesse ido. Deveras irritante, experimente o caro leitor também
5) Havia uma quinta razão, bem sei, mas não estou agora a ver qual era...


A discussão é das antigas. Tem, provavelmente, a idade do Homem. Porquê junto ao mar? Porquê nas cavernas? Porquê a roda? Porquê lembrar os feitos de Tróia se estivemos lá? Porquê pintar as paredes? Porquê a ciência, a técnica, a poesia, o amor?

Cada um terá as suas respostas. As dos que me antecederam estão aí, à nossa volta, para o bem e para o mal, a condicionarem o presente. Procuro as minhas, dia-a-dia, sem grandes intenções, sem muitas certezas. Errando, seguramente. Acertando, às vezes. A queda, a haver, será porventura grande. Como a de Ícaro.

10 April 2007

Começar

O mundo é grande

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.

Carlos Drummond de Andrade
in Amar se Aprende Amando