15 April 2007

Eadweard Muybridge


Ainda está para ser feita A Verdadeira História das Apostas, dentro do espírito da petit histoire. O mesmo que, nas últimas décadas, tem desvendado os segredos do corpo, do beijo, da lágrima, do casamento, do divórcio, dos bordéis, da representação das nádegas, enfim, de todo um mundo feito de simples pessoas, nem grande, nem pequenas, a não ser nos desejos.

A ser feita essa análise, rapidamente se descobriria os contributos que, ao correr dos séculos, as apostas legaram à Humanidade. Os Jogos Olímpicos eram só para provar a destreza humana? Marco António apaixonou-se por Cleópatra só porque sim? Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança só porque D. João II pediu com jeitinho? Muito antes de rolarem os dados, já a alma humana se desfazia em ilusão e adrenalina.

A aposta daquele dia conta-se em poucas palavras. A maioria defendia que, durante uma corrida, o cavalo tinha sempre uma das patas no chão. Leland Standorf defendia exactamente o contrário: que o cavalo, ainda que por milésimos de segundos, tinha todos as patas no ar. A teoria já tinha sido avançada por Étienne Jules Marey, embora o francês nunca tivesse apresentado dados que a sustentasse. Mas naquele mês de Junho, de 1878, Leland Standorf estava disposto a esclarecer todas as dúvidas.

Ao seu lado, na quinta Palo Alto Stock, tinha Eadweard Muybridge, um fotógrafo inglês que passara os últimos anos a investigar a decomposição do tempo. Divulgada a fotografia, o desafio que se colocava era a fixação minuciosa do movimento. Para isso, Muybridge preparou um sistema que alinhava doze câmaras fotográficas que, ligadas por uma rede de cabos conseguiriam capturar doze exposição em apenas meio segundo.

Mais do que uma aposta, acabava-se de inventar o Cinema. Só que ainda ninguém o sabia.

Relato completo desse dia aqui.

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