19 April 2007

Jacques Le Goff

Foi um período histórico que aprendi a gostar. Não foi imediato. Antes pelo contrário. Primeiro chegou o Egipto, a Mesopotâmia, o classicismo grego e romano, a exuberância do Renascimento e a actualidade contemporânea. Só depois a Idade Média. Ainda estou para me reatar com o Iluminismo – demasiada atenção ao progresso.
Aos pouco fui descobrindo os encantos de uma época – longa, de cerca de 1000 anos – que moldou o nosso modo ocidental de viver, centrado na religião – praticante ou não – no conhecimento humanista – universitário ou não – e nas trocas comerciais – forçadas ou não. Acima de tudo fascina-me a redescoberta do Mundo. Após as grandes mitologias da antiguidade, os homens e as mulheres da Idade Média reconstruíram a sua percepção do mundo, imaginando paraísos e purgatórios, festejando o Carnaval e jejuando na Quaresma, cultivando o latim e a desenvolvendo regionalismo, fixando-se definitivamente na terra e viajando pelos mares desconhecidos. Contrastes que mostram, no fundo, a duplicidade humana, metade luz, a restante sombra. Uma parte sonho, a outra, receio.
Entre os vários investigadores que estudaram essa época, surgem à cabeça Georges Duby e Jacques Le Goff, ambos da École des Annales, movimento que revolucionou a nossa ideia de História. Do segundo, acabam de sair duas traduções de livros recentes. A Idade Média para principiantes, na Temas e Debates, uma excelente e esclarecedora introdução, para miúdos e graúdos, e Por amor às cidades, na Teorema, um confronto entre as cidades de hoje e de outrora, com paralelismos e abismos. Além de uma entrevista no JL, nas bancas na próxima terça-feira, 24 (por causa do feriado), podem encontrar mais informações aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

Pintura de Pieter Bruegel, A luta entre o Carnaval e a Quaresma, 1559

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