28 May 2007
Não brinquem com o zé
24 May 2007
Grande serviço público
22 May 2007
Nelson de Matos Edições
Informações gentilmente cedidas por MJM.
21 May 2007
Dar a cara, às vezes
16 May 2007
Festival de Cannes

Lisboa: cidade perdida

Ou muito me engano, ou as eleições intercalares para a Câmara Municipal de Lisboa podem desembocar num autêntico «pântano político», para usar uma frase conhecida. O resultado parece-me imprevisível. Ninguém, na verdade, estava preparado para este sufrágio. Esperemos pelas propostas, mas por enquanto o cenário é mau.
Para o PS, mais do que uma eleição, trata-se de um referendo ao Governo. A escolha de António Costa assim o indica.
Carmona Rodrigues e Helena Roseta jogam as suas últimas cartadas políticas. Com uma derrota, perdem para sempre a popularidade política de que gozam actualmente. Com uma vitória, acentuam a desconfiança em relação aos partidos políticos.
A Lula e a Baleia, de Noah Baumbach
Um dos melhores filmes que vi nos últimos anos. Pena tê-lo visto tão tarde. A Lula e a Baleia devia ser obrigatório na Escola Primária. Toxic Parents - todos temos. Problemas de identidade - também. E baleias com pouco respeito pelos outros, mesmo se estiverem envolvidos muitos tentáculos - muito frequentemente. Claro que isto diz pouco do filme. Mas não interessa. Só vendo. Só sentindo. Só recordando. Tentemos uma aproximação, no entanto. Um casal decide finalmente separar-se. Ele é escritor, falhado. Ela escritora, à beira do sucesso. No meio da tempestade em que esta situação os arrasta ficam os dois filhos. O mais velho, adolescente. O mais novo, a sair da infância. Uma crise familiar filmada com extrema sensibilidade e fina ironia, relatando situações que, apesar de concretas, são em tudo universais. A custódia dividida, os amantes que surgem pelo caminho, as ideias feitas, maternas e paternas, boas e más, os sonhos desfeitos. Excelente. Para ver e rever. Em todas as idades.
15 May 2007
Depressão cinematográfica

Que expectativas?
13 May 2007
O Eco de Pombal
Primeira Liga

11 May 2007
Separados à nascença


A Casa dos Encontros, de Martin Amis

10 May 2007
Novos Mundos

09 May 2007
The Fountain, de Darren Aronofsky
Foi discreta a passagem de The Fountain, a última longa-metragem de Darren Aronofsky, pelas salas portuguesas, depois de ter recebido honras de fecho no Fantasporto. Mas a verdade é que o filme desilude, sobretudo quando visto na sequência do estimulante Pi (1998) e do inesquecível Requiem for a Dream (2000). Faltam as imagens de marca da sua realização, o ritmo inebriante da história e aquele universo pessoal e reconhecível oferecido nas fitas anteriores. Resta-nos a sobreposição engenhosa de três registos, três versões da mesma história em três épocas diferentes: num presente dominado pela ciência, num passado regulado pela fé e num tempo suspenso de vida baseado na esperança. Esperemos pelos já anunciados Black Swan, em 2008, e The Fighter, em 2009.
A TV do futuro?
Tríptico III
Assim
E assim também
08 May 2007
Peregrinos Séc. XXI
07 May 2007
Sinos e cabeças
04 May 2007
Relatório minoritário
03 May 2007
Sextante Editora
Tríptico II
A não perder

Banco (pouco) Mundial
Dar a cara, mas nem sempre
02 May 2007
A queda do mito
01 May 2007
Tríptico I
Balaou, de Gonçalo Tocha

Publiquei isto aqui, onde estão mais críticas sobre o Indie Lisboa.
Pontes e margens
O jovem Fassbinder


Filho de pais separados, Fassbinder habituou-se a ir ao cinema muito cedo, sobretudo com o pai, que vivia em Colónia. Era capaz de ver vários filmes seguidos, em particular os gangsters norte-americanos, que faziam as delícias de quem queria escapar ao já monolítico mainstream de Hollywood. É esse universo, que também foi decisivo para a Nouvelle Vague francesa, e para realizadores tão importantes como Godard, que ressoa nestas duas experiências de dez minutos cada. Mais na segunda do que na primeira, já que esta foi feita em resposta a O Signo de Leão, de Eric Rohmer, filme que Fassbinder gostava muito. Mas vejamos (salvo seja, claro).
Em O Mendigo (1966), um sem-abrigo vagueia pelas ruas de Munique. O ambiente urbano é mostrado logo de início, com um longo plano-sequência que capta os eléctricos a partir, a agitação dos carros, a correria dos transeuntes que rumam a casa no final de mais um dia. Na madrugada seguinte, escondido numa paragem, com uma garrafa vazia ao seu lado, o mendigo vive a solidão da sua existência. Sem destino, encaminha-se para um parque. É nessa trajectória que descobre, no chão, uma pistola. A vida, com a proximidade da morte, ganha um novo sentido. E a concretização dessa possibilidade de vida e de morte anima-o. Mas o acto terá de ser bem feito. Cuidado. Estudado. Meticuloso. Mas a um mendigo nada mais resta do que ser malogrado. Frustrado. Roubado. Destituído de esperança. E em jeito de paródia, duas pessoas que surgem do nada roubam-lhe a pistola. Nem ir desta para melhor é permitido a um mendigo.
A fita seria recusada pelo Festival de Oberhausen, na altura a mais importante mostra de curtas-metragens do mundo, e uma comissão de avaliação não lhe atribuiu o certificado de qualidade que asseguraria ao realizador descontos nos impostos. «Recusar a coisa quase racista que é um certificado de qualidade a um filme tão bem enquadrado e montado como este, num país cuja produção cinematográfica era insignificante», escreve António Rodrigues na folha da Cinemateca dedicada ao filme, «é mais uma prova de que há momentos em que a renovação do cinema só pode ser feita através de alguma violência ou alguma marginalidade». Foi esse o caminho de Fassbinder. «Esta primeira curta-metragem não foi uma experiência, nem uma tentativa, foi uma afirmação.»
Poucos meses depois, Fassbinder realizou O pequeno caos (1967), esta sim uma autentica história de gangsters, como será a trilogia O amor é mais frio do que a morte (1969), Os deuses da peste (1969) e O soldado americano (1970). Outra vez com Munique em pano de fundo, três amigos procuram desesperadamente dinheiro. Tocam às campainhas, entram em prédios, batem às portas, tentam vender assinaturas de revistas, mil e uma artimanhas sem resultado. A única solução é assaltar alguém desprevenido. E é isso que fazem. A realização e a montagem são, aqui, mais ritmadas, com a utilização do plano e contra-plano. Quem bate à porta, que está do outro lado, quem quer vender, quem recusa comprar. A curta acaba com uma sequência extraordinária, e contamo-la, tal como nos alongámos no filme anterior, porque ambos raramente passam nas salas portuguesas. Depois do assalto bem sucedido, e ainda na casa da pobre senhora, Fassbinder, que faz o papel principal, pergunta à única rapariga do grupo: «O que vais fazer com este dinheiro?». Ela responde-lhe: «Não sei, comprar qualquer coisa bonita, um vestido». E, virando-se para o terceiro membro do grupo, um homem, diz: «E tu?». «Talvez um brinquedo para o meu filho.» «E tu?», perguntam os dois. Fassbinder, sintetizando a sua carreira futura, dispara: «Eu vou ao cinema!»
Ainda a repensar Abril
Quem a tem chama-lhe sua
António Barreto
(...) Nestas festas de comemoração da liberdade, Cavaco Silva nada tinha para dizer. Ou nada queria dizer, o que é bem diferente. Assim, para apesar de tudo não fazer figura de corpo presente, fez o que pôde para ser original. Pôs em causa o sentido e a oportunidade das festas oficiais.
O que é estranho: ninguém aceita um convite para um aniversário para, em casa do anfitrião, discorrer melancolicamente sobre a inutilidade da festa. Socorrendo-se de clichés, falou em nome da juventude, a quem aquela cerimónia nada diria. O argumento é antigo. Mas há qualquer coisa que deixa um incómodo. Não faz sentido querer forjar, ou forçar, a partir do Estado, uma festa jovem, civil e cultural. Esta já se faz. Enquanto houver comunistas, socialistas, gente de esquerda em geral, com mais de umas décadas de idade, haverá festa. É, em boa medida, a festa deles.
As direitas nunca festejaram o 25 de Abril, até por causa do que se lhe seguiu.
Quando um dividido deputado do PSD afirma, como é o caso há anos, que "o 25 de Abril é de todos", está ingenuamente a confessar que de facto não é.
As festas são, numa parte, das esquerdas, que aproveitam o dia para arrasar as direitas, o centro, os governos, os liberais e os patrões. Noutra parte, são dos militares que fizeram a "inesquecível jornada" e que deveriam ter, por gratidão, um belo desfile militar a preceito.
A verdade é que, em todo o país, há, nesse dia, milhares de festas, civis ou autárquicas, quase sempre com o mesmo objectivo: dar voz às reivindicações dos trabalhadores, dos sindicatos, das esquerdas e de alguns intelectuais e artistas. A que não faltam churrascos, bailes e cerveja. Deixem-nas viver, enquanto há, porque é bem possível que, dentro de anos, também o 25 de Abril siga o caminho das praias e dos Centros Comerciais. Quanto ao Parlamento, que produza anualmente aqueles discursos geralmente destituídos de inteligência, novidade ou sentido: dali não vem mal ao mundo. Nem bem.