28 April 2007

Repensar Abril

Excelente artigo de Pacheco Pereira hoje, no Público, sobre o discurso do Presidente da República nas comemorações dos 33 anos do 25 de Abril. Mais do que manifestar uma preocupação, a de que as pessoas estariam a esquecer a Revolução e o seu significado, o que Cavaco Silva expressou foi o seu desejo de matar Abril. Esvaziá-lo de sentido, retirá-lo do património da esquerda, afastá-lo da rua. E o mais preocupante é o alinhamento do PS, do PSD e, como não podia deixar de ser, do CDS-PP com esta posição. Tudo se contesta neste país, menos o que podem os políticos fazer para valorizar o nosso património histórico. Basta lembrar, a este propósito, como a muitos outros, que as duas iniciativas da Assembleia da República dirigidas ao grande público foram Serralves em Lisboa e, agora, a Colecção Berardo. Duas exposições que servem mais para 'actualizar' os senhores deputados, sempre muito ocupados para contactar directamente com país, do que para aproximar eleitos e eleitores. O que se tem feito, da Assembleia da República ao Poder Local, para perpetuar os feitos de Abril? Pouco, muito pouco. E mesmo esse quase nada é sempre olhado de lado. Como se lutar foi de antigamente.

27 April 2007

All these voices



Fidelity, de Regina Spektor, in Begin To Hope (2006). Para ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir. Muitas vezes.

Câmara Clara

Olga Roriz e Maria José Fazenda são os convidados do próximo Câmara Clara, apresentado por Paula Moura Pinheiro. O Dia Mundial da Dança, que se celebra precisamente no domingo, 29, quando o programa vai para o ar, é o ponto de partida para um diagnóstico daquela arte em Portugal. Outro pretexto será a presença, em Lisboa, do bailarino e coreógrafo nova-iorquino Bil T. Jones, que regressa aos palcos do CCB, nos dias 4 e 5 de Maio, com Blind Date. Os concertos de Camané, no São Luiz, a ópera de Rossini, no Teatro Nacional de São Carlos, e as mais recentes novidades editoriais serão também abordados em reportagens específicas. Clamara Clara passa aos domingos, às 22 e 40, na RTP 2, repetindo às terças, às 2 e 15 da madrugada. No site do programa, aqui, pode ver as edições anteriores.

Novo romance de Mia Couto

Mia Couto, recentemente distinguido com o Prémio União Latina, está a escrever um novo romance, ainda sem título. Em entrevista à Visão de ontem, o escritor africano afirmou que se trata da «história de uma mulher europeia que vem para África à procura do marido». Nesse processo de procura, «ela cruza-se com uma família africana que, por sua vez, sabe coisas a respeito do seu marido». Duas vidas que se encontram e que dão continuidade à caracterização histórica e cultural de Moçambique que o autor tem vindo a desenhar na sua obra, desde a estreia, em 1983, com o volume de poemas Raiz de Orvalho, ao mais recente romance, de 2006, O outro pé da sereia, sempre com a chancela da Caminho.
Na mesma entrevista, Mia Couto mostra-se feliz por ter sido o primeiro escritor africano a receber o Prémio União Latina, no valor de 12 mil euros (metade para suportar custos de tradução), esperando que esse facto possa lançar novas pontes entre Europa e África. Descreveu também a sua relação com a Língua Portuguesa: «O que me apaixona na Língua Portuguesa é quanto ela pode deixar de ser portuguesa, o quanto ela pode ir além dos seus próprio limites». E acrescentou: «Mas isto não é apenas uma questão de mera ordem decorativa. Quero mostrar que esta maneira de recriar o português tem a ver com outras filosofias, com outra epistemologia dos povos que, nesta região de África, usam o português. Não é uma necessidade só literária, é também social.»

A força e os outros

Que força é essa
que trazes nos braços
que só te serve para obedecer
que só te manda obedecer
Que força é essa, amigo
que te põe de bem com outros
e de mal contigo
Que força é essa, amigo

Que força é essa, de Sérgio Godinho, in Sobreviventes (1971)

26 April 2007

Repensar a Revolução


Será que é isto que o Presidente da República tem em mente quando diz que devíamos repensar a Revolução?
Foto de .j.

Caminho

«Partiu com vinte anos de atraso, mas foi o primeiro a lá chegar. Seguiu o seu próprio caminho», contou o rapaz.

25 April 2007

24 April 2007

Abismo

Não se sai do abismo, aprende-se a sua linguagem

in Omertà, de Vasco Gato (ed. Quasi)

Bigdoy


Para os Babous. Foto de .j.

O de todas as semanas

Depois de estar nas bancas, aos sábados, o Sol é gratuito às segundas. Em PDF.

O de todos os dias



A NASA divulgou as primeiras imagens do Sol a três dimensões. Sublime.

23 April 2007

Liberdade, Liberdade

A Câmara Municipal de Lisboa vai comemorar o 25 de Abril com a inauguração do Túnel do Marquês de Pombal. Não admira que a Liberdade ande tão sombria.

E na segunda volta?

Há 40 anos que não se via nada assim. A taxa de participação nas eleições francesas, realizadas ontem, foi de 85 por cento. Depois de anos de turbulência política, os franceses parecem ter algo para dizer. Esperemos agora pelos resultados. Notícia aqui.

A Scanner Darkly, de Richard Linklater



Richard Linklater é um realizador curioso. Tanto assina filme de culto, como cede aos cânones de Hollywood. São as regras da sobrevivência na indústria mais poderosa do mundo. Mesmo assim, os seus projectos pessoais valem mais do que os esforços para equilibrar o orçamento. No Indie Lisboa passou o seu trabalho mais recente, A Scanner Darkly, um projecto que mistura a linguagem tradicional do cinema e as potencialidades da animação, na mesma linha de Waking Life. Essa componente híbrida é, de resto, um dos aspectos mais interessante do filme, na medida em que explora até ao limite as características intrínsecas do medium que utiliza. Uma das questões centrais do filme – quem é quem ou quem se esconde por detrás da máscara – só é possível através do uso da animação. Através dela o protagonista vai construindo (e perdendo) a sua identidade, pensado ser uma coisa, acreditando ser outra, confundindo as duas. Outro aspecto forte do filme é o argumento, do próprio Linklater, adaptação de um livro de Philip K. Dick. Bem ao seu estilo, o escritor norte-americano projecta, num mundo não muito distante, uma sociedade tiranizada pelo consumo de drogas – a substância D (de dependência, desistência, desconsolo, de morte, death, em inglês) – e por uma grande empresa – a Novo Caminho. Apesar de ocultos pela animação – o filme foi rodado normalmente, durante sessenta dias, e depois ‘animado’ em computador, ao longo de um ano – há alguns actores que se destacam. Sobretudo Woody Harrelson e Robert Downey Jr, extraordinários na recriação de um viciado. Dirigido muito provavelmente a um público reduzido, A Scanner Darkly é, a par de 300, de Zack Snyder (rodado na íntegra em estúdio), uma antevisão das possibilidades e dos riscos que atravessa o cinema contemporâneo.

Dia Mundial do Livro

Hoje é o Dia Mundial do Livro. Celebre a maior invenção da Humanidade, depois da Literatura (e do fogo e da roda, etc, tudo secundário neste contexto). Compre um livro, leia um lilvro, empreste um livro. Escreva um livro.

22 April 2007

Climas, de Nuri Bilge Ceylan



Climas (Iklimler) é a quarta longa-metragem do realizador e fotógrafo turco Nuri Bilge Ceylan, nascido em Istambul, em 1959. Koza foi a sua estreia na sétima arte, uma curta-metragem seleccionada para o Festival de Cannes, em 1995. Seguiram-se os filmes Kasaba (1997), Mayis Sikintisi (1999) e Uzak (2002). Misto de road-movie e de retrato psicológico, Climas conta os encontros e desencontros de um casal, Isa e Bahar, interpretado pelo próprio realizador e pela sua mulher (a expressiva actriz Ebru Ceylan). «O Homem foi feito para ser feliz por simples razões e infeliz por razões ainda mais simples - assim como ele nasce por simples razões e morre por razões ainda mais simples... Isa e Bahar são duas figura solitárias, que se arrastam pelas mudanças climáticas constantes do seu eu-interior, em busca de uma felicidade que já não lhes pertence», explica Nuri Bilge no seu site oficial. Ao captar essa errância, Climas fixa também a temperatura de um país, assolado por chuvas, nevões e um sol abrasador. Contrastes que justificam a indefinição das personagens. Mais do que o argumento, um mero pretexto, o filme vale pelo contextos que descreve, pelos enquadramentos - dignos de um excelente fotógrafo - e pelos grandes planos que nos aproximam intensamente das personagens. A sequência inicial, a conversa na praia, a viagem de mota (excelente), o reencontro já no final e o quarto de hotel são verdadeiros retratos em movimento, que tanto nos mostram a aparência, quando o abismo (e o sofrimento) que separa duas pessoas aparentemente tão próximas. Depois de As Tartarugas também voam, este do Irão, mais uma boa surpresa da cinematografia do Médio Oriente.

Pós-pós

«Vivemos numa época pós-ideológica», afirmou Paulo Portas, no discurso de vitória nas directas do CDS-PP. A declaração é todo um programa. Como dizia Slavoj Žižek, em Elogio da Intolerância (ed. Relógio d'Água), nos dias que correm já não se sabe muito bem o que defende a esquerda, o que defende a direita. Essa confusão só beneficia políticos como Portas. Pós-políticos, portanto. Vivemos numa época em que defender algo num dia e o seu contrário no seguinte é legítimo. Vivemos numa época em que dizer e fazer não têm necessariamente de rimar. Vivemos numa época triste. Como triste é ver os cães de fila a seguir a voz do dono. Sem ideias próprias, sem ambições, apenas agarrados ao pouco que têm, ao quase nada que desejam para o país. A Ribeiro e Castro sobra a honradez, o que, não sendo suficiente para suportar uma ideologia, é bastante para definir um homem.

O que fazer com ele

«O problema não é estar meio cheio, nem meio vazio», disse o rapaz. «O problema é a existência do copo em si. É isso que determina a necessidade de o encher, ou de o esvaziar.»

A vida inteira

Cada qual é que escolhe aonde vai
Hora-a-hora e durante a vida inteira

Podes ter uma luta que é só tua
Ou então ir e vir com as marés
Se perderes a direcção da lua
Olha a sombra que tens colada aos pés

Senta-te aí, dos Rio Grande, interpretado por Jorge Palma

21 April 2007

Den Norske Opera


Foto de .j.

Boa nova

Saiu de casa para divulgar a sua boa nova. Cerca de quinhentas páginas da mais intensa prosa que alguma vez escrevera. Correu meio mundo, foi bater a todas as portas, explicou e argumentou com quem lhe apareceu à frente. Mas nenhuma editora o aceitou.

Fim-de-semana

Sábado e Domingo - uma pausa para a vida.

20 April 2007

Oslo


Foto de .j.

19 April 2007

Jacques Le Goff

Foi um período histórico que aprendi a gostar. Não foi imediato. Antes pelo contrário. Primeiro chegou o Egipto, a Mesopotâmia, o classicismo grego e romano, a exuberância do Renascimento e a actualidade contemporânea. Só depois a Idade Média. Ainda estou para me reatar com o Iluminismo – demasiada atenção ao progresso.
Aos pouco fui descobrindo os encantos de uma época – longa, de cerca de 1000 anos – que moldou o nosso modo ocidental de viver, centrado na religião – praticante ou não – no conhecimento humanista – universitário ou não – e nas trocas comerciais – forçadas ou não. Acima de tudo fascina-me a redescoberta do Mundo. Após as grandes mitologias da antiguidade, os homens e as mulheres da Idade Média reconstruíram a sua percepção do mundo, imaginando paraísos e purgatórios, festejando o Carnaval e jejuando na Quaresma, cultivando o latim e a desenvolvendo regionalismo, fixando-se definitivamente na terra e viajando pelos mares desconhecidos. Contrastes que mostram, no fundo, a duplicidade humana, metade luz, a restante sombra. Uma parte sonho, a outra, receio.
Entre os vários investigadores que estudaram essa época, surgem à cabeça Georges Duby e Jacques Le Goff, ambos da École des Annales, movimento que revolucionou a nossa ideia de História. Do segundo, acabam de sair duas traduções de livros recentes. A Idade Média para principiantes, na Temas e Debates, uma excelente e esclarecedora introdução, para miúdos e graúdos, e Por amor às cidades, na Teorema, um confronto entre as cidades de hoje e de outrora, com paralelismos e abismos. Além de uma entrevista no JL, nas bancas na próxima terça-feira, 24 (por causa do feriado), podem encontrar mais informações aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

Pintura de Pieter Bruegel, A luta entre o Carnaval e a Quaresma, 1559

Susana Anágua


Gosto muito do trabalho da Susana Anágua. Tem qualquer coisa de surpreendente, de inesperado, de sublime, até. Um sensação que se repete em cada exposição. Ela faz essencialmente vídeos em unidades fabris, de cimento e outros materiais. E dentro dos armazéns, dos grandes átrios, ou mesmo junto às máquinas consegue captar uma beleza pura - porque não manipulada - e constante - porque regulada pela monotonia dos aparelhos. A certa altura do terceiro filme do Matrix, um dos senadores pergunta a Neo por que razão luta contra as máquinas quando sem elas a vida, naquele enésimo andar subterrâneo, seria impossível. E exemplificava a sua teoria apontando para as condutas de ar e as cisternas que tornavam a vida possível. É essa contradição que a obra de Susana Anágua me suscita. Como é que algo aparentemente tão inumano consegue tocar-nos fundo? Como é que uma estética gerada por si própria consegue pôr em causa teorias construídas ao correr de séculos de arte à escala humana? Tudo isto (acho eu) pode ser comprovado na mostra que se inagura depois de amanhã, sábado, 21, na Galeria Presença, no Porto. Chama-se Natureza Mecânica, Episódio 2: A Desorientação.

Memories are made of this



Uma sequência de antologia. Para ver e rever. Muitas vezes. A Saudade de Veronika Voss, de Reiner W. Fassbinder.

18 April 2007

Integral, como eu gosto

Já mo disseram muitas vezes: «Não esgotes o autor». Mas eu não consigo. Não sei evitá-lo. Cada descoberta arrasta em si uma conquista. E quando se ruma por esse rio acima, desbravando poéticas, estéticas, prosas e versos, tintas e planos, não há meios termos. Começando, não há como parar. Lembro-me da vertigem de Machado de Assis, de Dino Buzzati, de Murnau, de Rossellini, ou das traduções de Aníbal Fernandes, só para referir as obsessões mais recentes. Tenho para mim que só pela soma das partes é possível ir além do todo. Não espanta, nem se estranha, que goste de Obras Completas e de Retrospectivas. Como a de Fassbinder, que hoje se iniciou na Cinemateca. Integral, como as bolachas que eu gosto.

Ver programação aqui.

O melhor de sempre

Vote aqui. Mas com o coração. Esqueça as estatísticas.

Coca-Cola white

Hoje lembrei-me daquele caderno com uma capa da Coca-cola (sabia lá o que era o capitalismo) vermelha e branca, como o logotipo. Não me lembro quando o comprei, nem onde, nem porquê. Só me lembro que do outro lado do quintal ela também tinha um (foi por isso?). E uma blusa e uma saia também. Bonitas. E uma cadeira e uma mesa também. Pequeninas. Ela curvada sobre o caderno, eu empoleirado sobre o muro. Talvez por isso tenha falhado uma vocação. Mas mesmo vazio, aquele caderno, vermelho e branco como o logotipo, encheu-se de quimeras.

Saldos e almas

Sai para a rua
Grita bem alto
Guarda o que és
Vende o resto em saldos

Ouvi hoje, na Radar. Não me lembro do grupo.

17 April 2007

Cadentes. Estrelas

Saiu de casa para olhar o céu. «Segue a tua estrela», disseram-lhe. Olhou, procurou, mas estava de dia. Voltou à noite. Olhou, procurou, mas só havia cadentes.

Welcome to the club

Código Deontológico

1.O jornalista deve relatar os factos com rigor e exactidão e interpretá-los com honestidade. Os factos devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses atendíveis no caso. A distinção entre notícia e opinião deve ficar bem clara aos olhos do público.
2.O jornalista deve combater a censura e o sensacionalismo e considerar a acusação sem provas e o plágio como graves faltas profissionais.
3.O jornalista deve lutar contra as restrições no acesso às fontes de informação e as tentativas de limitar a liberdade de expressão e o direito de informar. É obrigação do jornalista divulgar as ofensas a estes direitos.
4.O jornalista deve utilizar meios leais para obter informações, imagens ou documentos e proibir-se de abusar da boa-fé de quem quer que seja. A identificação como jornalista é a regra e outros processos só podem justificar-se por razões de incontestável interesse público.
5.O jornalista deve assumir a responsabilidade por todos os seus trabalhos e actos profissionais, assim como promover a pronta rectificação das informações que se revelem inexactas ou falsas. O jornalista deve também recusar actos que violentem a sua consciência.
6.O jornalista deve usar como critério fundamental a identificação das fontes. O jornalista não deve revelar, mesmo em juízo, as suas fontes confidenciais de informação, nem desrespeitar os compromissos assumidos, excepto se o tentarem usar para canalizar informações falsas. As opiniões devem ser sempre atribuídas.
7.O jornalista deve salvaguardar a presunção da inocência dos arguidos até a sentença transitar em julgado. O jornalista não deve identificar, directa ou indirectamente, as vítimas de crimes sexuais e os delinquentes menores de idade, assim como deve proibir-se de humilhar as pessoas ou perturbar a sua dor.
8.O jornalista deve rejeitar o tratamento discriminatório das pessoas em função da cor, raça, credos, nacionalidade ou sexo.
9.O jornalista deve respeitar a privacidade dos cidadãos excepto quando estiver em causa o interesse público ou a conduta do indivíduo contradiga, manifestamente, valores e princípios que publicamente defende. O jornalista obriga-se, antes de recolher declarações e imagens, a atender às condições de serenidade, liberdade e responsabilidade das pessoas envolvidas.
10.O jornalista deve recusar funções, tarefas e benefícios susceptíveis de comprometer o seu estatuto de independência e a sua integridade profissional. O jornalista não deve valer-se da sua condição profissional para noticiar assuntos em que tenha interesses.

Agora encarteirado. E o mesmo se aplica neste blog. Para reclamações aqui

16 April 2007

A playlist de...

O horário não é o melhor (de segunda a sexta, das 13 às 14, e ao sábado, às 17). Mas a ideia é boa. Pedir a uma figura pública que seleccione e comente a sua playlist. Pela antena da TSF já passaram Francisco José Viegas (a última semana), Teresa Salgueiro, Vasco Graça Moura, Mário Laginha, Rodrigo Guedes de Carvalho, até o Luiz Filipe Scolari (no melhor pano cai a nódoa). Para os que, como eu, não conseguem ouvir os programas, podem encontrá-los aqui.

16 de Abril

Hoje é dia Mundial da Voz. Celebre-se a arma de todos os povos. Livres ou oprimidos.

15 April 2007

O Caimão, de Nanni Moretti



A lotação estava esgotada. No Saldanha e no King. Não é todos os dias que se pode ver ao vivo um dos mais carismáticos e divertidos (nem sempre, claro) realizadores da actualidade. E não foi preciso esperar muito para se perceber por que razão goza Nanni Moretti desse estatuto. Bastou um sorriso, a sua pronúncia e os comentários jocosos.

O mesmo se pode dizer em relação ao seu último filme, O Caimão, uma pérola da trágico-comédia. Por detrás de uma história banal, a crise de um produtor de série B e a estreia cinematográfica de uma jovem realizadora, desvelam-se as peripécias da história recente italiana. Nos primeiros sessenta minutos a montagem é verdadeiramente genial. Num ritmo frenético, sucedem-se e entrecruzam-se sequências dos filmes do produtor, das histórias que ele conta aos filhos e do guião que a realizadora (a muito bonita Jasmine Trinca) lhe propôs. No meio disto tudo descobre-se um casamento em vias extinção, uma Itália tomada de assalto por um charlatão de óbvias intenções (Berlusconi, para que não haja dúvidas) e um filme que nunca sentirá a luz vibrante do grande ecrã.

Ao enredo e à realização, junta-se um elenco de luxo. Escolhido a dedo. Do produtor (um Silvio Orlando expressivo) ao protagonista do filme-em-curso (um extraordinário Michele Placido, da série Polvo, lembram-se?). O Caimão será, seguramente, um dos melhores filme de 2007.

Site oficial aqui.

Sensações sublimes

Saiu de casa em busca de qualquer coisa grandiosa. Sensações sublimes. Pegou no carro, com a ideia de percorrer o mundo. Mas foi detido pela Brigada de Trânsito. Não tinha seguro, nem carta de condução.

Eadweard Muybridge


Ainda está para ser feita A Verdadeira História das Apostas, dentro do espírito da petit histoire. O mesmo que, nas últimas décadas, tem desvendado os segredos do corpo, do beijo, da lágrima, do casamento, do divórcio, dos bordéis, da representação das nádegas, enfim, de todo um mundo feito de simples pessoas, nem grande, nem pequenas, a não ser nos desejos.

A ser feita essa análise, rapidamente se descobriria os contributos que, ao correr dos séculos, as apostas legaram à Humanidade. Os Jogos Olímpicos eram só para provar a destreza humana? Marco António apaixonou-se por Cleópatra só porque sim? Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança só porque D. João II pediu com jeitinho? Muito antes de rolarem os dados, já a alma humana se desfazia em ilusão e adrenalina.

A aposta daquele dia conta-se em poucas palavras. A maioria defendia que, durante uma corrida, o cavalo tinha sempre uma das patas no chão. Leland Standorf defendia exactamente o contrário: que o cavalo, ainda que por milésimos de segundos, tinha todos as patas no ar. A teoria já tinha sido avançada por Étienne Jules Marey, embora o francês nunca tivesse apresentado dados que a sustentasse. Mas naquele mês de Junho, de 1878, Leland Standorf estava disposto a esclarecer todas as dúvidas.

Ao seu lado, na quinta Palo Alto Stock, tinha Eadweard Muybridge, um fotógrafo inglês que passara os últimos anos a investigar a decomposição do tempo. Divulgada a fotografia, o desafio que se colocava era a fixação minuciosa do movimento. Para isso, Muybridge preparou um sistema que alinhava doze câmaras fotográficas que, ligadas por uma rede de cabos conseguiriam capturar doze exposição em apenas meio segundo.

Mais do que uma aposta, acabava-se de inventar o Cinema. Só que ainda ninguém o sabia.

Relato completo desse dia aqui.

You've got to find what you love

Ainda sobre canudos, doutores e engenheiros, vale a pena ler a intervenção de Steve Jobs, o patrão da Apple e inventor do iPod, perante os finalistas de Sandford.

«Your time is limited, so don't waste it living someone else's life. Don't be trapped by dogma — which is living with the results of other people's thinking. Don't let the noise of others' opinions drown out your own inner voice. And most important, have the courage to follow your heart and intuition. They somehow already know what you truly want to become. Everything else is secondary.»

Texto integral aqui. Versão portuguesa aqui. É um texto grande, mas vale mesmo a pena.

Pensamento socrático

Depois de tudo o que já foi dito sobre a licenciatura do primeiro-ministro, apenas acrescento dois comentários:

1) Para bom entendedor, meia palavra basta: Sócrates escolheu o caminho mais fácil. Disso não se livra.
2) Pior ainda, para o pensamento socrático, como para a maioria dos «políticos de profissão», investir num curso superior e dotar-se de ferramentas para pensar o mundo é completamente inútil. Mero pro forma. Importante são os comícios para as bases. E os jantares com os grupos de influência.

Assim vai a coisa pública.

14 April 2007

A não perder

Está farto da Fnac e dos livros acabadinhos de sair da gráfica? Ainda tem espaço naquelas estantes novas que levou lá para casa? Tem uns trocos extra e não confia na banca? Não está para esperar que os livros subam ao parque Eduardo VII? Então não perca:
Feira de Livro Manuseado da Assírio e Alvim, até 28 de Abril, na livraria da editora na Rua Passos Manuel (n.º 67). Sugestões: Gogol, Deluze, traduções de Aníbal Fernandes e muita Poesia
Volta a Portugal em Livros, até 9 de Maio, junto à Estação de Comboios do Areeiro, na Av. de Roma. Sugestões: Foucault, Meyrink e colecção Pequena História da Terramar.

Quantas vezes

Várias vezes ouvi o rapaz desabafar: «Todos os dias acordo, tomo banho, como, bebo, ando, viajo, ouço, falo, penso, vejo, leio, escrevo, sinto, beijo, amo. Mas muitas vezes esqueço-me de sonhar.»

Aviso à navegação

Secções, muitas. A criar, aos poucos. Comentários aleatórios. Raramente sistemáticos. A ver no que dá.

12 April 2007

Para continuar a conversa (5 + 5 - 5 = ?)

Num artigo recente, publicado no Expresso, Paulo Querido inventariou Cinco razões para um jornalista ter um blogue, seguidas de outras cinco a reforçar a ideia e outras tantas a contrariá-la.

A certa altura escreve:

1) Melhora a escrita
2) Atrai e envolve o público
3) Oferece um melhor entendimento do mundo digital
4) Ajuda a desenvolver alguns conhecimentos técnicos
5) É divertido


Depois, acrescenta:

1) Ajuda a mantermo-nos a par dos assuntos que se desenrolam gradualmente
2) Traz à atenção (através de comentários dos leitores, de referências cruzadas ou simplesmente da procura de algo sobre que escrever) assuntos que passariam despercebidos
3) Ter um blogue permite-nos conhecer outras pessoas e permite que elas nos conheçam. É mais fácil abordar alguém que pode ser uma fonte quando esta pessoa segue aquilo que escrevemos - mesmo que nunca tenha havido um contacto directo
4 ) Permite um registo diferente do da escrita profissional
5) Ensina a comunicar eficazmente na Web»


E um pouco contrariado, remata:

1) É monótono. Podemos escrever o mesmo post seis vezes por ano que ninguém repara. Nem nós
2) É um desperdício de energia. A maioria dos leitores não vai perceber nada porque lê apressadamente e de qualquer maneira já sabe tudo pois leu qualquer coisa sobre o assunto algures um dia destes, na semana passada ou foi há quinze dias?
3) Quando escrevemos que isto é azul, vai aparecer um leitor aos berros provando que é amarelo. É muito desagradável. Para as cores, claro
4) É irritante. Uma pessoa esfalfa-se a escrever um post super-bem, duas horas de pesquisa e três a dar ao dedo, sobre, digamos, as culturas hidropónicas em Marte, e aparecem vinte leitores de rajada na caixa de comentários a discutir animadamente a cor dos suspensórios que fulano teria levado à televisão se por acaso lá tivesse ido. Deveras irritante, experimente o caro leitor também
5) Havia uma quinta razão, bem sei, mas não estou agora a ver qual era...


A discussão é das antigas. Tem, provavelmente, a idade do Homem. Porquê junto ao mar? Porquê nas cavernas? Porquê a roda? Porquê lembrar os feitos de Tróia se estivemos lá? Porquê pintar as paredes? Porquê a ciência, a técnica, a poesia, o amor?

Cada um terá as suas respostas. As dos que me antecederam estão aí, à nossa volta, para o bem e para o mal, a condicionarem o presente. Procuro as minhas, dia-a-dia, sem grandes intenções, sem muitas certezas. Errando, seguramente. Acertando, às vezes. A queda, a haver, será porventura grande. Como a de Ícaro.

10 April 2007

Começar

O mundo é grande

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.

Carlos Drummond de Andrade
in Amar se Aprende Amando